Entrevista antiga, com a Ornitorrincos, feita por Arthur Dantas (+SOMA) para ser originalmente publicada no zine Contravenção, mais acabou não saindo...
Pro Contravenção Zine
1. O Ornitorrincos existe desde quando? Contem qual é da banda pro povo. E Daniel, explica essa afirmação em uma mensagem tua: "*aqui no estado ninguém gosta da gente... é sério fizemos só 1 show em porto alegre e só.... tocamos mais em sc e no paraná. somos meio odiados aqui heheheh... mas isto é muito bom... o que realmente importa para gente é incomodar!!"
Gustavo InseKto: Aparece uns caras... tipo, o Zé vegetariano (louco e mutante) só de cueca em um show, Diego, um punkrocker MOD (galã e safado), Daniel Villa Verde(nossa para falar deste canalha) usando pijama em um show ou completamente nu em outro(pergunte para os Curitibanos) ah, e eu, eu sou do planeta Inseckthox. O punk tem que ter dois lados da moeda, e podemos fazer parte das duas, o dia de se divertir com os amigos, e o dia de sermos críticos, como uma subversão "poéticamente incorreta".
Daniel: É mais ou menos isso Artur, não sei o porque.... aqui no RS o pessoal nunca gostou muito de nossa musica, talvez porque não nos levamos a sério demais e as pessoas aqui as vezes são muito sérias e mal humoradas... aquela coisa do politicamente correto que nunca abre um sorriso, mas por outro lado em Curitiba, que já tem mais doidos por metro quadrado, tem muita gente que gosta da banda, o nosso melhor show foi la em fevereiro deste ano, totalmente inesquecível.
Diego: É isso aí, "vamo quebrá tudo... eles que se fodam, malditos filhos da puta". Acho que Curitiba é o lugar onde as pessoas mais gostam do grupo. Os shows que fizemos lá foram inesquecíveis, principalmente esse último. Só quem esteve presente pode contar o que aconteceu. E o Ornitorrincos por mais que tente, vai ser sempre mal visto e odiado.
Zé Ulisses: Acho que as pessoas não gostam da gente aqui , simplesmente por não darmos a minima importância ao que eles tentam ou criam aqui . Tudo aqui é baseado nas palavras bonitinhas ou em um discurso babaca que as vezes até parece que você ta entrando em uma igreja com um padre gordo, segurando um maldito microfone na mão convertendo novos jovens , (e ai vem a melhor parte) , dizendo que isso é punk . A gente não liga pra nenhuma dessas porras aqui , foda-se . Dai vem gente dizendo que nós somos um bando de retardados que não comparecem aos shows e não ajudam a cena punk daqui. Ok , até posso concordar que somos uns cornos retardados e que não comparecemos aos shows , mas ajudar a cena punk? Que cena? Aqui em Porto Alegre isso não existe , somente um monte de gente que descobriu um novo lugar para achar meninas cheirosas e se sentir como um maldito rockstar em u m clipe na MTV . Prefiro ficar em casa ouvindo minha demo dos "Legais" pela milésima vez , ao sair e prestigiar isso , tenho certeza que irei ganhar muito mais.
2. *Na demo "Welt Politik, sucrilhos e refrigerantes...", o que me impressionou (além obviamente, da caixa de papelão tosca que traz a fita), foram as letras sarcásticas e espertas em portunhol, com aquela sonoridade rústica típica do hardcore 80 estadunidense. Como surgiu a idéia de cantar em portunhol, quais as bandas que influenciam vocês e a mais importante: Jello Biafra é deus?!?
Diego: Sei lá. Esse lance de influência é dificil falar... cada um ouve uma coisa. O Insékto ouve Napalm Death, o Zé, Germs e Yamandu Costa, o Daniel, qualquer coisa, se tu chegar para ele, falar que tem uma banda da Indonésia que toca Bossanoisecrustpopindierocknrollsambapunktumpatumbumbum ele vai adorar. Essa semana eu ouvi muito Bob Dylan, The Ex e Tom Zé. O que dá pra perceber de influência no som mesmo é o punk dos anos 80, mas não se prende só a isso.
Gustavo InseKto: Welt politk, sucrilhos e refrigerantes é o nome de um dos meus livros de poesia, Jello Biafra existe, já deus, não... Mas a quem diga o contrário... Anos 80, o punk parecia ser mais ácido, por mais que as letras hoje sejam mais inteligentes o sarcasmo do punk sumiu um pouco... Então, imaginem tocarmos o que gostamos e o Daniel cantando em portunhol... Pra que mais canastrão do que alguém cantando em portunhol Julio Iglesias punk.
Daniel: Sei la de onde surgiu a idéia de cantar em espanhol.... foi algo espontâneo como tudo na banda, poderíamos ter escolhido francês, mas é algo mais dificil, nas próximas músicas vamos cantar em francês, e fazer referências aos textos situacionistas, porque ta na moda! hehehehehehe
Sobre bandas americanas dos 80, todos da banda piram nisso... Black Flag, Big Boys, Reagan Youth( tocávamos um cover), Circle Jerks, Dead Kennedys, Germs, Flipper, Minutemen, acho que como o Insékto falou gostamos mesmo da acidez que as bandas tinham na época.
3. Eu acho foda em vcs um espírito de "guerrilha underground" que parece ter ficado perdido no fim da década de 90. Vcs não tem medo de soar antiquado? Tem uma razão maior por manter a produção centrada em fanzines em papel e trabalhos semi artesanais?
Gustavo InseKto: Nossa, realmente estou ficando velho, nem sabia que isso estava antiquado.
O que a gente faz não é proposital do tipo "resgatar as origens, o espíto do underground" a gente sempre fez assim... E qual é a graça de um zine que não é cheroKado? Os primeiros zines que fiz, ANARCOVOMIT e INFEKTOS MUERTOS eram como todos daquela época, não tinha essa panelinha de: a meu zine é hardcore melódico e eu só entrevisto e faço resenhas de melódico... antes entrava tudo, gangsta rap ao extremo e brutal grind death metal, tudo na santa paz de O FAZINEIRO...
Daniel: Realmente os anos 90 dão saudade a todo fanzineiro que viveu o underground da época (você é um, lembro do Velotrol), antes a única maneira de você saber de uma banda era o fanzine, os flyers que recebia, essas coisas.... demos tapes mal gravadas que você amava escutar, muitas vezes até mais que os cds bem produzidos hoje.... acho que a coisa era mais ingênua antes, mas muito mais romântica e apaixonate!!! Antes as pessoas envolvidas eram em menor quantidade, mas parece que eram mais ativas e menos passivas, as vezes mero consumidores de música punk, e não interagentes do meio. E zine na internet é coisa de recalcado!!! Viva o xerox e as colagens e a máquina de escrever!!! hehehehehehehe
4. Eu ouvi as músicas de vocês que vão sair em cd pela
L-Dopa e achei a sonoridade das canções mais anos 90. Houve alguma mudança na formação? E expliquem o que é o movimento "Terrorismo Brando"...
Diego: Na demo as músicas eram mais cruas, elas foram feitas num fim de semana e gravadas no outro. Acho que foram mais espontâneas. A "welt politik.." foi feita na hora, poucos minutos antes de gravar. O Zé chegou com uma base nova, o Insékto meteu um poema dele no meio e gravamos. Já as músicas do cd foram mais trabalhadas, ou nem trabalhadas.. foram mais tocadas, ensaiadas, é.. trabalhadas mesmo. Enfim, elas ficaram mais "Bonitas" e mais "doidas". Mas, na demo já tinha essa doidera e essas bases "bonitas". Então, basicamente acho que é quase a mesma coisa, só que melhor gravado. Além, é claro, do entrozamento que vai aumentando e vamos conseguindo botar na prática melhor as coisas. Não sei. Exploramos mais as nossas loucuras, tem um blues de 10 minutos..
Gustavo InseKto: noventa? Acho que não. de 80 para setenta??? Para mim a primeira ta mais punk rock e a segunda punk in roll(???) e não tivemos nenhuma mudança na formação.
Zé Ulisses: Terrorismo brando?, bem isso o Mário saberia responder melhor . Eu ja concordo com você , as musicas ficaram meio com essa sonoridade , e sinceramente cada vez que escuto elas , as acho mais feias, talvez a gravação tenha ficado boa demais , o que acho que não funciona com a gente , nossas primeiras gravações depois da demo foi no quintal de um amigo nosso na cidade do Gustavo e do Daniel (maldita Santo Antonio da Patrulha , não queira ir la) e na boa , são lindas algumas com brigas nossas e outras com latidos de cachorros , preferia botar elas no cd , o Diego ja comentou em esquecermos aquelas musicas , o que estou começando a concordar , mas acho que no final vão ser essas mesmo e foda-se .
5. Como surgiu o convite de fazer a trilha-sonora de um filme do Peter Baierstoff? E me respondam algo que estou intrigado: como é ser punk rocker em Santo Antônio da Patrulha (explica onde que fica, quantos habitantes)?
Diego: O Peter é nosso amigo. Um dia recebemos uma carta avisando que uma música seria usada no próximo filme dele. Foi isso. O filme saiu, chama-se " Fragmentos De Uma Vida ". Quanto a ser "Punk rocker" em Santo Antônio da Patrulha é com o Daniel e o Gustavo, pois eles é que moram lá. Eu e o Zé somos da capital.
Daniel: Consideramos o Peter uma pessoa incansável, o que dizer de um cara que edita um fanzine em xerox a mais de 11 anos, e nunca esteve ai para as modas da cena.... gostamos da escatologia, do jeito que ele cutuca a sociedade, a moral e os bons costumes em seus filmes, ele é um punk que faz filmes para nós, e acho que ele atinge bem mais seu objetivo do que muitos punks por aí. Sobre Santo Antônio da patrulha, ela fica na região do litoral norte gaucho(embora não tenha praia), a 1 hora de porto alegre, e tem 35 mil habitantes. Apesar de as vezes não ter opções de emprego e cultura aqui, não troco a minha cidade por uma capital, gosto do sossego do interior as paisagens bucólicas, a vida da colônia, hehehehe, mas falando sério ser punk rocker em uma cidade com menos de 50 mil habitantes é um tanto estranho, você tem que ficar catando informações, imagin a por anos ouvíamos as demos que recebíamos, e líamos os fanzines, e ficávamos só fantasiando como seria um show ou o pessoal com que se correspondíamos!!! Depois começamos a organizar shows e festivais aqui na cidade, e pode-se dizer que a cidade tem, para o tamanho dela muitas pessoas que vão em shows, e gostam de música punk. Mas que as pessoas estranham e olham torto para você.. olham! heheh
Gustavo InseKto: Na época forte dos fanzines que conheci os filmes do Petter Baiestof, na casa do Marlos (que fazia o "and CHIMARRÃO FOR ALL zine") ele passou, ELES COMEM SUA CARNE e O MONTRO LEGUME DO ESPAÇO, eu pirei e disse, tenho que conhecer este cara, começamos a trocar correspondências e eu enviei a demo de um projeto noise meu, o MOTEUR INSECTES INDUSTRIELLE, programa de bateria no vídeo game, eu berrando e tocando guitarra desafinada, aí saiu uma música "Interestellar overdrive" (cover do pink floyd) no filme ZOMBIO. Ele já ficou duas vezes aqui em casa (Santo. Antônio), veio para passar seus filmes novos, RAIVA, e agora este que saiu a música dos Ornitorrincos.
6. O que os motiva a escrever letras tão boas quanto as de "El Bruce volveu para el Iron, el Kiss volveu a pintar su cara" ou "Lo Sol" (vamos colocar as letras de outras músicas no zine)? O que inspira vocês a fazer essas pérolas?
Gustavo InseKto: Eu puxava minha carteirinha de assinante da rock brigade de 95 e dizia: Bah, Daniel, vou voltar a ser metal, o Bruce voltou para o Iron e o Kiss voltou a pintar a cara... Caíamos na risada...quá,quá,quá... Ai ele escreveu a letra...
Daniel: As letras saem na total espontaneadade e improviso.... não é do tipo " ahhhh vamos escrever uma letra sobre isso ou aquilo..." normalmente sai de uma piada interna como a letra do El bruce, a de periódicos... eu ficava vendo minha tia, mãe e avó, na sala da minha casa, todas lendo revistas de fofoca e ficava puto com aquilo... daí escrevi a letra quando lembrei disso.
Acho que coisas do cotidiano, que as vezes passam despercebidas e não damos a mínima importância, são boas inspirações.
Diego: A letra dos Correios, por exemplo, se não me engano foi escrita na época que eles queriam acabar com as cartas sociais... então, numa tarde, começamos a discutir sobre todos os problemas que poderiamos ter com os correios: extravios, a tarifa alta, aí surgiu a letra. Tem toda uma história por trás, todas as nossas letras vem de conversas, quando falamos mal de alguma coisa ou de alguém. Desde o político até a dona de casa. Desde o cara que tu acha um idiota até nós mesmos.
Zé Ulisses: Pensar que o punk tem um preço e esta sendo vendido em qualquer lugar , raiva a cena musical gaúcha , pensar que GG Allin morreu como um rockstar sabe essas coisas......
7. Palavras finais. Ah! Daniel, Explica também sua teoria do porquê o Bidê ou Balde não serem undergrounds e quais as melhores bandas para vocês do Rio Grande do Sul...
Daniel: Porque eles nunca escreveram uma carta social na vida!!! Eita coisa deprimente essas bandas gaúchas metidas a maistream, essas micro celebridade gaúchas, que coisa mais ridícula...
Tem todo um glamour medíocre nisso, um prepotência provinciana e burra. Bandas que usam a cena independente apenas por conveniência até acharem uma major para assinar um contrato fajuto com elas, aqui tem demais isso, bandas que gravaram um cd-r, já tem empresarios, já querem dar autógrafos, e aparecer na coluna social do jornal local.... aiaiaiaia. Da vontade de rir muito!
Mas tem muitas bandas boas também por aqui.... posso citar Not so Easy, Screams of Life, Iconoclasticos, Clint Eastwood, Walverdes, Tijolo Seis Furo, Luther Blisset, Juicemen, e outras que esqueci.
Zé Ulisses: Para mim existem 3 bandas realmente boas aqui : Luther Blisset , por fazerem o que da na telha sem se importar como ninguém . Chapman: musicas boas e letras inteligentes e Sobreviventes do Kaos (e Cia) por levarem o punk a sério há tanto tempo.
1. O Ornitorrincos existe desde quando? Contem qual é da banda pro povo. E Daniel, explica essa afirmação em uma mensagem tua: "*aqui no estado ninguém gosta da gente... é sério fizemos só 1 show em porto alegre e só.... tocamos mais em sc e no paraná. somos meio odiados aqui heheheh... mas isto é muito bom... o que realmente importa para gente é incomodar!!"
Gustavo InseKto: Aparece uns caras... tipo, o Zé vegetariano (louco e mutante) só de cueca em um show, Diego, um punkrocker MOD (galã e safado), Daniel Villa Verde(nossa para falar deste canalha) usando pijama em um show ou completamente nu em outro(pergunte para os Curitibanos) ah, e eu, eu sou do planeta Inseckthox. O punk tem que ter dois lados da moeda, e podemos fazer parte das duas, o dia de se divertir com os amigos, e o dia de sermos críticos, como uma subversão "poéticamente incorreta".
Daniel: É mais ou menos isso Artur, não sei o porque.... aqui no RS o pessoal nunca gostou muito de nossa musica, talvez porque não nos levamos a sério demais e as pessoas aqui as vezes são muito sérias e mal humoradas... aquela coisa do politicamente correto que nunca abre um sorriso, mas por outro lado em Curitiba, que já tem mais doidos por metro quadrado, tem muita gente que gosta da banda, o nosso melhor show foi la em fevereiro deste ano, totalmente inesquecível.
Diego: É isso aí, "vamo quebrá tudo... eles que se fodam, malditos filhos da puta". Acho que Curitiba é o lugar onde as pessoas mais gostam do grupo. Os shows que fizemos lá foram inesquecíveis, principalmente esse último. Só quem esteve presente pode contar o que aconteceu. E o Ornitorrincos por mais que tente, vai ser sempre mal visto e odiado.
Zé Ulisses: Acho que as pessoas não gostam da gente aqui , simplesmente por não darmos a minima importância ao que eles tentam ou criam aqui . Tudo aqui é baseado nas palavras bonitinhas ou em um discurso babaca que as vezes até parece que você ta entrando em uma igreja com um padre gordo, segurando um maldito microfone na mão convertendo novos jovens , (e ai vem a melhor parte) , dizendo que isso é punk . A gente não liga pra nenhuma dessas porras aqui , foda-se . Dai vem gente dizendo que nós somos um bando de retardados que não comparecem aos shows e não ajudam a cena punk daqui. Ok , até posso concordar que somos uns cornos retardados e que não comparecemos aos shows , mas ajudar a cena punk? Que cena? Aqui em Porto Alegre isso não existe , somente um monte de gente que descobriu um novo lugar para achar meninas cheirosas e se sentir como um maldito rockstar em u m clipe na MTV . Prefiro ficar em casa ouvindo minha demo dos "Legais" pela milésima vez , ao sair e prestigiar isso , tenho certeza que irei ganhar muito mais.
2. *Na demo "Welt Politik, sucrilhos e refrigerantes...", o que me impressionou (além obviamente, da caixa de papelão tosca que traz a fita), foram as letras sarcásticas e espertas em portunhol, com aquela sonoridade rústica típica do hardcore 80 estadunidense. Como surgiu a idéia de cantar em portunhol, quais as bandas que influenciam vocês e a mais importante: Jello Biafra é deus?!?
Diego: Sei lá. Esse lance de influência é dificil falar... cada um ouve uma coisa. O Insékto ouve Napalm Death, o Zé, Germs e Yamandu Costa, o Daniel, qualquer coisa, se tu chegar para ele, falar que tem uma banda da Indonésia que toca Bossanoisecrustpopindierocknrollsambapunktumpatumbumbum ele vai adorar. Essa semana eu ouvi muito Bob Dylan, The Ex e Tom Zé. O que dá pra perceber de influência no som mesmo é o punk dos anos 80, mas não se prende só a isso.
Gustavo InseKto: Welt politk, sucrilhos e refrigerantes é o nome de um dos meus livros de poesia, Jello Biafra existe, já deus, não... Mas a quem diga o contrário... Anos 80, o punk parecia ser mais ácido, por mais que as letras hoje sejam mais inteligentes o sarcasmo do punk sumiu um pouco... Então, imaginem tocarmos o que gostamos e o Daniel cantando em portunhol... Pra que mais canastrão do que alguém cantando em portunhol Julio Iglesias punk.
Daniel: Sei la de onde surgiu a idéia de cantar em espanhol.... foi algo espontâneo como tudo na banda, poderíamos ter escolhido francês, mas é algo mais dificil, nas próximas músicas vamos cantar em francês, e fazer referências aos textos situacionistas, porque ta na moda! hehehehehehe
Sobre bandas americanas dos 80, todos da banda piram nisso... Black Flag, Big Boys, Reagan Youth( tocávamos um cover), Circle Jerks, Dead Kennedys, Germs, Flipper, Minutemen, acho que como o Insékto falou gostamos mesmo da acidez que as bandas tinham na época.
3. Eu acho foda em vcs um espírito de "guerrilha underground" que parece ter ficado perdido no fim da década de 90. Vcs não tem medo de soar antiquado? Tem uma razão maior por manter a produção centrada em fanzines em papel e trabalhos semi artesanais?
Gustavo InseKto: Nossa, realmente estou ficando velho, nem sabia que isso estava antiquado.
O que a gente faz não é proposital do tipo "resgatar as origens, o espíto do underground" a gente sempre fez assim... E qual é a graça de um zine que não é cheroKado? Os primeiros zines que fiz, ANARCOVOMIT e INFEKTOS MUERTOS eram como todos daquela época, não tinha essa panelinha de: a meu zine é hardcore melódico e eu só entrevisto e faço resenhas de melódico... antes entrava tudo, gangsta rap ao extremo e brutal grind death metal, tudo na santa paz de O FAZINEIRO...
Daniel: Realmente os anos 90 dão saudade a todo fanzineiro que viveu o underground da época (você é um, lembro do Velotrol), antes a única maneira de você saber de uma banda era o fanzine, os flyers que recebia, essas coisas.... demos tapes mal gravadas que você amava escutar, muitas vezes até mais que os cds bem produzidos hoje.... acho que a coisa era mais ingênua antes, mas muito mais romântica e apaixonate!!! Antes as pessoas envolvidas eram em menor quantidade, mas parece que eram mais ativas e menos passivas, as vezes mero consumidores de música punk, e não interagentes do meio. E zine na internet é coisa de recalcado!!! Viva o xerox e as colagens e a máquina de escrever!!! hehehehehehehe
4. Eu ouvi as músicas de vocês que vão sair em cd pela
L-Dopa e achei a sonoridade das canções mais anos 90. Houve alguma mudança na formação? E expliquem o que é o movimento "Terrorismo Brando"...
Diego: Na demo as músicas eram mais cruas, elas foram feitas num fim de semana e gravadas no outro. Acho que foram mais espontâneas. A "welt politik.." foi feita na hora, poucos minutos antes de gravar. O Zé chegou com uma base nova, o Insékto meteu um poema dele no meio e gravamos. Já as músicas do cd foram mais trabalhadas, ou nem trabalhadas.. foram mais tocadas, ensaiadas, é.. trabalhadas mesmo. Enfim, elas ficaram mais "Bonitas" e mais "doidas". Mas, na demo já tinha essa doidera e essas bases "bonitas". Então, basicamente acho que é quase a mesma coisa, só que melhor gravado. Além, é claro, do entrozamento que vai aumentando e vamos conseguindo botar na prática melhor as coisas. Não sei. Exploramos mais as nossas loucuras, tem um blues de 10 minutos..
Gustavo InseKto: noventa? Acho que não. de 80 para setenta??? Para mim a primeira ta mais punk rock e a segunda punk in roll(???) e não tivemos nenhuma mudança na formação.
Zé Ulisses: Terrorismo brando?, bem isso o Mário saberia responder melhor . Eu ja concordo com você , as musicas ficaram meio com essa sonoridade , e sinceramente cada vez que escuto elas , as acho mais feias, talvez a gravação tenha ficado boa demais , o que acho que não funciona com a gente , nossas primeiras gravações depois da demo foi no quintal de um amigo nosso na cidade do Gustavo e do Daniel (maldita Santo Antonio da Patrulha , não queira ir la) e na boa , são lindas algumas com brigas nossas e outras com latidos de cachorros , preferia botar elas no cd , o Diego ja comentou em esquecermos aquelas musicas , o que estou começando a concordar , mas acho que no final vão ser essas mesmo e foda-se .
5. Como surgiu o convite de fazer a trilha-sonora de um filme do Peter Baierstoff? E me respondam algo que estou intrigado: como é ser punk rocker em Santo Antônio da Patrulha (explica onde que fica, quantos habitantes)?
Diego: O Peter é nosso amigo. Um dia recebemos uma carta avisando que uma música seria usada no próximo filme dele. Foi isso. O filme saiu, chama-se " Fragmentos De Uma Vida ". Quanto a ser "Punk rocker" em Santo Antônio da Patrulha é com o Daniel e o Gustavo, pois eles é que moram lá. Eu e o Zé somos da capital.
Daniel: Consideramos o Peter uma pessoa incansável, o que dizer de um cara que edita um fanzine em xerox a mais de 11 anos, e nunca esteve ai para as modas da cena.... gostamos da escatologia, do jeito que ele cutuca a sociedade, a moral e os bons costumes em seus filmes, ele é um punk que faz filmes para nós, e acho que ele atinge bem mais seu objetivo do que muitos punks por aí. Sobre Santo Antônio da patrulha, ela fica na região do litoral norte gaucho(embora não tenha praia), a 1 hora de porto alegre, e tem 35 mil habitantes. Apesar de as vezes não ter opções de emprego e cultura aqui, não troco a minha cidade por uma capital, gosto do sossego do interior as paisagens bucólicas, a vida da colônia, hehehehe, mas falando sério ser punk rocker em uma cidade com menos de 50 mil habitantes é um tanto estranho, você tem que ficar catando informações, imagin a por anos ouvíamos as demos que recebíamos, e líamos os fanzines, e ficávamos só fantasiando como seria um show ou o pessoal com que se correspondíamos!!! Depois começamos a organizar shows e festivais aqui na cidade, e pode-se dizer que a cidade tem, para o tamanho dela muitas pessoas que vão em shows, e gostam de música punk. Mas que as pessoas estranham e olham torto para você.. olham! heheh
Gustavo InseKto: Na época forte dos fanzines que conheci os filmes do Petter Baiestof, na casa do Marlos (que fazia o "and CHIMARRÃO FOR ALL zine") ele passou, ELES COMEM SUA CARNE e O MONTRO LEGUME DO ESPAÇO, eu pirei e disse, tenho que conhecer este cara, começamos a trocar correspondências e eu enviei a demo de um projeto noise meu, o MOTEUR INSECTES INDUSTRIELLE, programa de bateria no vídeo game, eu berrando e tocando guitarra desafinada, aí saiu uma música "Interestellar overdrive" (cover do pink floyd) no filme ZOMBIO. Ele já ficou duas vezes aqui em casa (Santo. Antônio), veio para passar seus filmes novos, RAIVA, e agora este que saiu a música dos Ornitorrincos.
6. O que os motiva a escrever letras tão boas quanto as de "El Bruce volveu para el Iron, el Kiss volveu a pintar su cara" ou "Lo Sol" (vamos colocar as letras de outras músicas no zine)? O que inspira vocês a fazer essas pérolas?
Gustavo InseKto: Eu puxava minha carteirinha de assinante da rock brigade de 95 e dizia: Bah, Daniel, vou voltar a ser metal, o Bruce voltou para o Iron e o Kiss voltou a pintar a cara... Caíamos na risada...quá,quá,quá... Ai ele escreveu a letra...
Daniel: As letras saem na total espontaneadade e improviso.... não é do tipo " ahhhh vamos escrever uma letra sobre isso ou aquilo..." normalmente sai de uma piada interna como a letra do El bruce, a de periódicos... eu ficava vendo minha tia, mãe e avó, na sala da minha casa, todas lendo revistas de fofoca e ficava puto com aquilo... daí escrevi a letra quando lembrei disso.
Acho que coisas do cotidiano, que as vezes passam despercebidas e não damos a mínima importância, são boas inspirações.
Diego: A letra dos Correios, por exemplo, se não me engano foi escrita na época que eles queriam acabar com as cartas sociais... então, numa tarde, começamos a discutir sobre todos os problemas que poderiamos ter com os correios: extravios, a tarifa alta, aí surgiu a letra. Tem toda uma história por trás, todas as nossas letras vem de conversas, quando falamos mal de alguma coisa ou de alguém. Desde o político até a dona de casa. Desde o cara que tu acha um idiota até nós mesmos.
Zé Ulisses: Pensar que o punk tem um preço e esta sendo vendido em qualquer lugar , raiva a cena musical gaúcha , pensar que GG Allin morreu como um rockstar sabe essas coisas......
7. Palavras finais. Ah! Daniel, Explica também sua teoria do porquê o Bidê ou Balde não serem undergrounds e quais as melhores bandas para vocês do Rio Grande do Sul...
Daniel: Porque eles nunca escreveram uma carta social na vida!!! Eita coisa deprimente essas bandas gaúchas metidas a maistream, essas micro celebridade gaúchas, que coisa mais ridícula...
Tem todo um glamour medíocre nisso, um prepotência provinciana e burra. Bandas que usam a cena independente apenas por conveniência até acharem uma major para assinar um contrato fajuto com elas, aqui tem demais isso, bandas que gravaram um cd-r, já tem empresarios, já querem dar autógrafos, e aparecer na coluna social do jornal local.... aiaiaiaia. Da vontade de rir muito!
Mas tem muitas bandas boas também por aqui.... posso citar Not so Easy, Screams of Life, Iconoclasticos, Clint Eastwood, Walverdes, Tijolo Seis Furo, Luther Blisset, Juicemen, e outras que esqueci.
Zé Ulisses: Para mim existem 3 bandas realmente boas aqui : Luther Blisset , por fazerem o que da na telha sem se importar como ninguém . Chapman: musicas boas e letras inteligentes e Sobreviventes do Kaos (e Cia) por levarem o punk a sério há tanto tempo.
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